sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Geringonças Visíveis


O visível é o meio
que o invisível usa
que a inconsciência busca
para se
manifestar

Agora querem nos convencer de que somos apenas máquinas biológicas. Não mais do que um amontoado de moléculas e estupidez.

Na voz dos cientistas (e outros desatentos), este corpo do qual sou habitante é meu hardware.  Afirmam que, para comandar o humor deste emaranhado de carne, osso e nervos, dependemos da matemática dos elementos químicos.

Segundo aqueles sujeitos, se meu cérebro (disco rígido desta geringonça visível) estiver faminto por serotonina, não realizará suas sinapses de acordo com o programado. Ele me dirá para me esconder sob quatro cobertores, e só sair em caso de novo dilúvio.

Mas quando o hard disk for saciado, ele me fará pular todos os carnavais de Recife e Salvador. Na Quarta Feira de Cinzas me levará para Ibiza, na quinta para o hospital.

Esses materialistas de microscópio proclamam a verdade naquilo que podem ver, pensam que está no visível a causa da angústia, da alegria, do medo, do barulho no motor.

Mas, se entrarmos em guerra contra os cientistas levando lógica e matemática como armamento, a derrota tende a ser vergonhosa.

Como então convencê-los que é no visível que o invisível pode ter nariz, bocas, orelhas de abano, e outras coisas de sentir e aprender?

Não com prosa, por certo. Que tal com cantigas?

(Dica aos cientistas: quanto mais rápido conseguir ler, mais rápido vai compreender.)

O Carpinteiro Hipotético
Que do corpo quis apetrecho
Pra esculpir no quê se vê,
Pra esculpir no quê se vê
Já vai fazer entender
Que entender o invisível
Somente será possível
Se você desentender

A cantilena da alma,
Que pra depressa aprender recita
Pra esculpir no quê se vê,
Pra esculpir no quê se vê
Vai te trazer a calma
Porque esta chama, maldita,
Talha, estala, crepita
Bem dita te faz arder
Pra esculpir no quê se vê,
Pra esculpir no quê se vê

Se aos esses dessas espinhas
Não sucedem desassossegos
É só sentir sonhar sorver
É só sentir sonhar sorver
Só aceite o Ser sensível
Sutililizar o visível,
Seu cientista sem saber
É só sentir sonhar sorver
É só sentir sonhar sorver