quinta-feira, 2 de outubro de 2014

E se ninguém votar?



Mulheres em Luta

Outro dia resolvi meter o bedelho num interessante debate no Facebook. O debate se travava entre duas belas e inteligentes mulheres – o que, por si só, já tornaria qualquer debate interessante (menos sobre o Brad Pitt, você há de convir).

Uma das debatedoras levantou a seguinte hipótese: e se, nessa eleição, ninguém fosse votar?

Outra rebateu dizendo que apenas poderemos mudar a atual situação pelo voto.

Às duas somaram-se outras não menos belas e inteligentes mulheres, cada uma com um acréscimo ou argumento construtivo.

Eu, por segurança, prefiro ficar em cima do muro. Digo que, a princípio, ambas tem razão. Tudo vai depender de onde você quer chegar.

Neste texto tentarei dar minha contribuição ao debate. Analisarei apenas a réplica, ou seja, a ideia de que sim,


O voto é sua arma

Se você acredita que, um dia, algum de nossos eleitos cumprirá promessas de campanha, então o voto é o mais importante artigo de seu arsenal. Use-o com precisão, escolha e atinja o alvo conforme sua mira e convicções.

Não apenas cumpra com seu dever cívico, não apenas exerça seu direito de votar, mas cobre, acompanhe, informe-se.

Antes de repetir palavras de ordem, aprenda sobre democracia, aprenda a argumentar sem ofensas e sem se sentir ofendido.

Analise, despido de preconceitos, o que você - e somente você - pensa a respeito do mundo, a respeito de política e das mais diversas formas de governo e maneiras de governar.


Não se obrigue a pensar o que outros pensam. Não acredite em tudo o que ouve. Tudo o que é dito é a versão de alguém. Tenha a plena consciência que você não deve acreditar na imprensa.

A imprensa é patrocinada pelos donos do poder. Portanto, ela apenas noticia o que o eles querem. O poder na mídia, você sabe, não é o governo. São os queridos patrocinadores (da imprensa - e também do governo).

Se você quer mesmo saber o que está acontecendo no seu país e com os seus candidatos, procure na internet, em blogs, em sites fora do eixo.

Leia outro jornal, ouça e considere uma ideia oposta à sua. Quem sabe você não vai se surpreender por ter visto algo sob outro ângulo? Pode ser até divertido.

Antes de sair gritando contra Comunismo, Socialismo, Capitalismo, Anarquia, tire uma tarde para estudar esses conceitos. Tente encaixar seu candidato em alguma ideologia. Se você não conseguir, algo está errado – com o seu estudo ou com o seu candidato.

Antes de dar eco a campanhas difamatórias, informe-se. Hoje todo mundo é jornalista e apenas divulgue o que tiver certeza vir de fonte confiável. Não seja um inocente útil, porque mal intencionado eu sei que você não é (mas alguns podem não saber).

Vote em um partido. Não caia nessa história de votar no candidato. O candidato deve seguir as diretrizes do partido. E o menos que se espera de um candidato é que ele desconheça o clube ao qual está afiliado.

Insisto, vote no partido. Somente assim você saberá o que defende politicamente.

Compare todas as legendas, não apenas aqueles que são líderes na pesquisa. Um partido apenas se torna grande com o seu voto. Não importa se ele vai vencer agora ou quando o seu neto for eleitor, o importante é que você está lutando por algo em que acredita.

O seu candidato não foi para o segundo turno? Ok, votemos no menos pior (mas o seu menos pior).

Mude de partido, se for o caso. Pode ser que o partido mude, você pode mudar.


Não procure líderes ou grandes locutores. Você não precisa ser liderado. Palavras bonitas você ouve do seu amor (dá para esquecer o Brad Pitt?).

O que você precisa é ser ouvido. Você está votando no seu porta-voz, naquele que vai fazer o que você faria no lugar dele.


Realidades Alheias

Não seja ingênuo. Ingenuidade, arrogância  e preconceito podem se confundir.

Para apenas analisarmos um caso, quantas pessoas você não ouve criticar, ironizar as tais bolsas do governo? Vamos pensar?

É lógico que ninguém vai defender que o governo dê esmolas – e as bolsas não são muito mais do que isso. Mas a primeiríssima coisa que eu devo pensar é: tenho eu o direito de julgar o tipo de auxílio dado a alguém em evidentes necessidades? Eu disponho de conhecimento suficiente da realidade de tantas famílias deste país? Eu saberia dizer se essas famílias podem “esperar as coisas melhorarem”?

Cair na armadilha de dizer que alguns se aproveitam do benefício é aplaudir o papel do bandido.

Ora, quer dizer que, porque alguns se aproveitam, outros devem morrer de fome?
Também não é triste que alguém tenha que se aproveitar dessas migalhas num país que deveria ter o suficiente para todos?

Dados demonstram que o bolsa família fomentou pequenos comércios. O açougueiro, o quitandeiro e o verdureiro passaram a ter fregueses. É um benefício secundário pouco divulgado.

Sem dúvida que o ideal seria que todos tivessem salário digno e pudessem comprar o que quiserem sem precisar de favores. É por isso que devemos lutar.
Enquanto o milagre não acontece, não dá para dizer às mães: ”Vamos ali mudar o mundo e já voltamos com o leite”.

Aquele que se manifesta quanto às esmolas dadas aos pobres esquece que é infinitamente mais oneroso ao país o dinheiro que se dá aos ricos. O caso aqui não é de política, é de humanidade.

Defender ou admitir um ato de determinado governo não significa defender aquele governo. O que precisamos é que as boas ideias se perpetuem, que depois de iniciativas emergenciais (como o bolsa família) surjam condições mais justas, que haja maior igualdade entre todos.
Mas voltemos ao seu voto, que é do que falávamos.


Democracia em todo lugar 

Você acredita no voto, você entende que é por aí o caminho da mudança. Você escolheu partido e candidato, mas não defenda partido e candidato como se defendesse seu time do coração e seu craque preferido. Política não é futebol. Estamos, a maioria, na mesma torcida.

Eu tenho certeza que você também sabe que votar, cobrar, estudar, refletir, nada disso é suficiente. Porque nem tudo que nos perturba é o governo.

É preciso, cada ver mais, como democrata, exigir seus direitos nos bancos, nas companhias de comunicação, no meio de transporte, na educação privada, nos hospitais particulares etc etc etc.

Se você reclama dos corruptos, seja você um cidadão de princípios. Não dê cervejinha para o guarda, não corte filas, preocupe-se realmente em defender o direito do outro (inclusive o direito de votar em outro candidato ou partido).

E vote. Consciente e informado, vote. Humanizado, vote.

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Para não deixar de relatar a conclusão do debate entre as duas sofisticadas mulheres, devo dizer que elas o finalizaram como se poderia esperar. Com elegância e bom humor.
(Para ser justo com ambas, em E se ninguém votar - Segunda Parte você pode ler um arrazoado sobre a possibilidade de ninguém ir às urnas - possibilidade que deu origem ao saudável debate.)



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